Os maus tratos em crianças podem ser subdivididos em 4 principais tipos: abuso físico, negligência, abuso sexual e abuso emocional. Comumente esses 4 tipos são achados conjuntamente.
O ortopedista normalmente se depara com situações de abuso físico que são 25% dos casos de maus tratos. É difícil precisar os números dos casos de maus tratos às crianças devido a baixa notificação, mas a Organização Mundial da Saúde cita que aproximadamente 3 em cada 4 crianças entre 2 e 4 anos sofrem violência física e/ou psicológica regularmente pelos pais ou cuidadores.
Estima-se que 10% dos casos de trauma em crianças menores de 3 anos atendidos são não acidentais. Por isso, um bom e completo exame médico combinado com uma história que inclui dados sociais é essencial para identificar casos suspeitos.
As lesões de pele são as mais comuns por agressão física, porém o trauma craniano é a maior causa de morbidade e mortalidade. Apesar de incomum, as lesões de vísceras causam mortalidade em 40 a 50% dos casos. As fraturas são a segunda lesão mais comum apresentada nos maus tratos físicos, podendo ocorrer em 9 a 55% dos casos de agressão física e dependem do tipo de agressão.
Fraturas de ossos longos como fêmur, tíbia e úmero em crianças que não caminham são altamente sugestivas de maus tratos. Várias fraturas com estágios diferentes de consolidação são vistas em mais de 50% das crianças que sofrem maus tratos, mesmo aassim não se pode descartar caso de abuso infantil quando apresenta-se apenas 1 fratura. Alguns tipos de lesões ósseas são mais comuns em agressões: separação fisaria causada por tração, fraturas metafisárias em “alça de balde”, alargamento da zona metafisária por avulsão periostal repetidamente, fraturas de coluna, fraturas de costelas.
O diagnóstico diferencial mais comum para as crianças com múltiplas fraturas é osteogênese imperfeita.
O principal e mais vital passo no manejo dos maus tratos às crianças é estabelecer o diagnóstico. Estima-se que a falha no diagnóstico na apresentação inicial pode resultar em 30 a 50% de chance que os maus tratos se repitam e 5 a 10% de chance de morte.